O MELHOR DO CARNAVAL DE SALVADOR - AS MINHAS DICAS

domingo, fevereiro 12, 2017


O carnaval de Salvador é BEM MAIS que Chiclete, Asa de Águia, camarote e bloco de corda [embora tenha tudo isso também]. É MUITO MAIS. Tem um monte de blocos afros, tem bloco de protesto, bloco de índio (sabia?), tem samba de roda, tem rock, tem sertanejo, funk. Amo o jeito como a gente nunca teve medo do que vem de fora, nunca proibiu nenhum tipo de música e expressão cultural e, mesmo assim, a nossa música mantém-se firme e forte como protagonista da festa.

Eu reconheço os muitos problemas que o carnaval de Salvador enfrenta, principalmente na delimitação de limites entre os espaços públicos e privados. Mas, apesar disso, o carnaval baiano sempre foi uma festa plural, diversa e muito divertida. Nos últimos anos, ainda bem, o carnaval de rua vem retomando os espaços da folia, com diminuição dos grandes blocos pagos, limites para camarotes, etc.

Eu acredito que, com regulação (séria!) e organização, há espaço pra todos. Sou uma defensora de que o carnaval tenha espaços pagos e estratégias comerciais para financiar sua estrutura e atrações gratuitas.

OS CIRCUITOS



O Carnaval é uma festa ENORME. Tem folia para todo mundo, para todo tipo de gosto, organizadas em circuitos. São sete oficiais: Dodô (Barra/Ondina), Osmar (Campo Grande), Batatinha (Pelourinho), Riachão (Mudança do Garcia), Sérgio Bezerra (Farol da Barra/ Morro do Cristo), Orlando Tapajós (Clube Espanhol/Farol da Barra) e Mestre Bimba (Nordeste de Amaralina). Os três principais são o Dodô, Osmar e Batatinha.

O Circuito Osmar, o mais tradicional, fica no Centro Histórico: começa no Campo Grande, passa pela Avenida Sete, Praça Castro Alves e volta pela Avenida Carlos Gomes. O encerramento é realizado no Corredor da Vitória. O percurso tem aproximadamente 4 km e 5 horas de duração.

O Circuito Dodô, na orla, sai da Barra e vai até Ondina. Surgiu depois do circuito do Campo Grande, com blocos que não saiam nos dias ‘oficiais’ da folia (domingo, segunda, terça), chamados de “alternativos”. Depois cresceu tanto que virou o principal trajeto da festa. É mais amplo e mais fresco que o Osmar.

No Pelourinho fica o Circuito Batatinha com seu carnaval das antigas: mascarados, bandas de marchinhas, fanfarras, blocos de crianças. É uma delícia, carnaval com clima familiar.

O circuito Riachão foi criado para oficializar o trajeto que o tradicional bloco Mudança do Garcia faz há mais de 80 anos em Salvador, saindo do final de linha do bairro Garcia até o Campo Grande.

As novidades são os Circuitos “Orlando Tapajós” e o “Praça Castro Alves”. O primeiro faz o trajeto Ondina/ Barra, no sentido contrário do tradicional Dodô (sai do Clube Espanhol, em Ondina, para o Farol da Barra). O segundo fica no centro de Salvador, nos arredores da Castro Alves. Os dois são fruto da recente retomada dos carnavais mais “tradicionais”, com blocos menores e artistas mais próximos do público.

Além de tudo isso, o carnaval sempre tem um Palco de Rock. Esse ano vai ser no Jardim de Alah, com programação de sábado a terça.

E não acabou por aí! Além dos circuitos oficiais, muitos bairros têm festas durante o carnaval. Esse ano, estão confirmados dez locais: Cajazeiras, Periperi, Itapuã, Liberdade, Boca do Rio, Plataforma, Centro Histórico (Praça da Cruz Caída) e nas ilhas de Maré, Bom Jesus dos Passos e dos Frades.
Ufa!

Tem folia demais, gente, acreditem em mim!


Meu Carnaval perfeito - o que fazer em cada um dos dias da folia


Quarta-feira

Se você tiver a sorte de chegar um pouco antes dos dias oficiais do carnaval, vá para a Barra na quarta-feira de noitinha. No bairro, saem vários blocos acústicos, sem trio, com bandinhas de sopro e percussão, com aquela energia da promessa de carnaval! A farra cresceu tanto que já virou até um circuito, chamado Sérgio Bezerra, em homenagem ao fundador da Banda Habeas Copus, um clássico da Barra. Há alguns anos atrás, saía no Gravata Doida, com concentração no Caranguejo do Farol (bar que fica justo na orla do bairro), e bandinhas do tipo “chupa catarro”, rs.

Esse ano vai ter novidade! A Prefeitura anunciou um grande cortejo, saindo do Terreiro de Jesus, em direção à Praça Municipal, com baianas e bandas como Olodum, Didá, Ilê Aiyê, Malê de Balê, Os Mutantes, Cortejo Afro, Muzenza, dentre outras. Na praça, eles encontram uma orquestra com 40 músicos, para fazer o baile de abertura do carnaval. Imagina só que coisa linda não vai ser?


Quinta-feira

Quinta para mim é dia do Bloco dos Mascarados, de Margareth Menezes. Além de diva, Margareth tem um repertório maravilhoso e o bloco uma energia incrível. Uma pena que sai tão tarde na quinta e sexta seja dia de trabalho em Salvador...


Todo mundo vai fantasiado e quem compra o bloco ganha só uma pulseirinha. É engraçado porque já virou uma tradição na cidade ter os “Mascarados” e os “Discarados” (em bom baianês), que não compram a pulseirinha e mesmo assim ficam dentro do bloco, rs. Eu mesma sempre saía nos Discarados!

O bloco é bem diverso, com gente de muitas idades, artistas e preferências. Se você é LGBTT, amigue, se jogue que a casa é sua!

Como o bloco sai bem tarde, antes dá para curtir os trios do Araketu e Luiz Caldas (gente, imagina a delícia que é Luiz Caldas num trio?) que vão sair na quinta no mesmo circuito, em trios independentes. Ivete Sangalo, a rainha da porra toda, também sai na quinta, de grátis.

Sexta-feira

No circuito Barra-Ondina, a boa da sexta é a Pipoca do Saulo, que é deliciosa. Pipoca é o folião que brinca sem abadá. O público de Saulo é super diverso, tranquilo, astral maravilhoso.  Tem também Daniela Mercury no seu trio independente arrastando uma massa super divertida com as gay mais fechativas do Braseeel!




No circuito Campo Grande, sexta tem Furdunço, que reúne um monte de atrações como charangas, fanfarras, orquestras, grupos percussivos e minitrios, para reviver os carnavais mais “tradicionais”. Nunca fui no Furdunço, que só começou em 2015, mas todo mundo diz que é IMPERDÍVEL! O bloco deve sair a partir das 15h (dê um desconto do atraso e vá!), no Contrafluxo (saindo de Ondina e indo para Barra). Vale confirmar com a programação final, que só costuma sair bem próximo da folia!

Sábado

No sábado, faça uma coisa por você e vá ver o Ilê Ayê sair da Senzala do Barro Preto, na Liberdade, o maior bairro negro fora da África DO MUNDO! É uma das coisas mais lindas e energizantes que já vi na vida.

A concentração começa em frente à sede do Ilê, que fica na Ladeira do Curuzu. As pessoas vão chegando e se espalhando pela Ladeira, esperando o início do bloco. Muitos artistas, políticos e personalidades baianas marcam presença. Fica muito cheio, mas o astral é tão bom que você até acha gostoso, rs. Os tambores vão chegando e se posicionam, até que começa o ritual da saída, quando o Ilê pede paz para os orixás e abençoa os presentes, soltando pombas, dando banho de pipoca (pra todo mundo ficar leve) e pó de pemba (pó branco usado em rituais do candomblé). Só então o bloco começa a subir a ladeira, sob fogos e muitas palmas. Quando os tambores iniciam, o coração fica pequeninho e dá uma vontade de chorar de tão lindo!




É uma delícia acompanhar o Ilê pela Liberdade. É a casa deles, então as pessoas acenam para seus conhecidos que estão na percussão, ou nos microfones. Apesar de enorme, a Liberdade tem aquele jeitão de cidade pequena: as famílias colocam cadeiras nas varandas para ver o bloco passar, os jovens com isopor e cerveja pelas ruas.

As mulheres são um verdadeira espetáculo. Maravilhosas, com roupas africanas dignas de rainhas. A Deusa do Ébano, escolhida todo ano pelo Ilê, vai em cima do trio, fazendo sua dança hipnotizante.

Nós precisa acompanhar o percurso todo, que é enorme. Depois do Ilê, sugiro pegar um taxi/ Uber e voltar para o circuito Barra/ Ondina.

No sábado vai ter Camarote Andante, de Carlinhos Brown, que é massa! Ele sai cantando do chão, em frente ao trio. O bom de seguir artistas como Brown é que ele sempre consegue canjas dos artistas que estão nos camarotes, como Gilberto Gil, Daniela...




Domingo

Domingo é dia de circuito histórico!
Minha dica de ouro é: compre o camarote do Ilê Ayiê! Vou te dizer o porquê: no carnaval, o camarote pode ser legal como um ponto de apoio, sabe? Um lugar para ir no banheiro, comprar bebida, sentar, descansar um pouco entre um trio e outro... Como o camarote do Ilê não é desses famosos, nem tem comida e bebida incluída, o preço é beeem razoável. O clima é familiar (muita gente do próprio bloco, famílias, etc) e a estrutura é ótima. Tem barraquinhas com petiscos e lanches para a hora da fome, bebidas à venda (não só cerveja), e banheiro bem honesto, rs.

A localização é a melhor possível: fica justo em frente da Praça Castro Alves, pegando o finalzinho da Avenida Sete, e o início da Carlos Gomes. Os baianos dizem que é onde os trios “dobram a Sulacap”, prédio da Sulamérica Capitalização, que fica justo na esquina que ligam as duas famosas avenidas. É um lugar emblemático, os trios e cantores sempre ficam um pouco mais por ali.

Tem dois jeitos bons de chegar lá: indo pelo bairro Comércio (na Cidade Baixa) e subindo a Ladeira da Montanha (o Ilê colocava vans para levar o pessoal para o camarote) ou aproveitando para seguir um trio, desde o Campo Grande até a praça Castro Alves e dali já fica no camarote para ver os próximos. Em 2015, eu fiz isso e foi bom demais!

Em 2017, vai ter Baiana System e convidados no pôr do sol do domingo na Praça Castro Alves. IMPERDÍVEL! Baiana System é uma das coisas mais legais da música baiana hoje, na minha humilde opinião.


Segunda-feira

Na segunda, sai o tradicionalíssimo Mudança do Garcia, que existe há mais de 80 anos no carnaval de Salvador. O bloco sai do final de linha do Garcia até o Campo Grande, onde inicia o circuito Osmar. O Mudança é um bloco de protesto, cheio de mensagens políticas, mas com a cara da Bahia porque é tudo feito com muita picardia, irreverência e esse jeitão baiano de nunca se levar à sério.

Conta-se que o nome do bloco vem da história de uma prostituta, que foi expulsa do bairro em plena segunda de carnaval pela elite da sociedade à época (Garcia é um bairro bem antigo e tradicional de Salvador). Daí toda segunda o bloco faz o mesmo trajeto da mulher.

Como o Mudança sai de tarde, depois corre pro circuito Barra-Ondina para duas atrações imperdíveis: os blocos negros Cortejo Afro, Muzenza, Malê Debalê que saem na sequência. O Cortejo Afro é bem lindo, vale a pena vê-los passando.

O trio elétrico Armadinho, Dodô e Osmar, da família Macedo, inventores do trio elétrico e da guitarra baiana (sabia que a guitarra baiana foi inventada ao mesmo tempo que a guitarra, né? Ou seja, a Bahia inventou a guitarra, rs). É uma delícia, astral bom, galera diversa, misturada, velhinhos, jovens, baianos e turistas. Se Armandinho, que é O monstro da guitarra, estiver no trio você tá feito! Quando ele tocar Chame gente, ali na subida do Cristo na Barra, e começarem os acordes de  “Ah, imagina só/ que loucura essa mistura/ alegria, alegria é o estado que chamamos Bahia/ De todos os santos, encantos e axé/ sagrado e profano, o baiano éééé CARNAVAL”, você levanta a cabeça pra cantar a música a planos pulmões e acaba sentindo a brisa do mar, que bate forte ali na subida do Cristo. Nessa hora, meu amigo, você descobre que não tem lugar nenhum do mundo onde você gostaria de estar que não fosse ali.

Para os mais animados, o último trio programado para segunda de carnaval no circuito Barra-Ondina é o Baiana System. Pancadão!

Olha o trio Armandinho, Dodô e Osmar tocando Chame Gente:



Terça-feira

Ainda vivo? Se sim, vá ver o Filhos de Gandhy, o maior afoxé do mundo. São mais de seis mil homens vestidos de branco, com seus famosos turbantes e colares. É demais! Normalmente, eles passam no circuito Campo Grande, mas na programação desse ano estão em Barra-Ondina, no Contrafluxo. Vale conferir!

No Circuito Campo Grande, tem Luiz Caldas, Daniela Mercury e Araketu, todos em trios independentes. Como a programação definitiva ainda não está confirmada, vale acompanhar a programação do encerramento do carnaval, com o encontro de trios na Praça Castro Alves na terça de madrugada e na quarta-feira de cinzas.


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2 comentários

  1. Adorei o post. Da muita vontade de ir!! E esse Baiana System? Que loucura!

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